segunda-feira, 5 de setembro de 2011

D. Sancho I

D. Sancho I


Segundo rei de Portugal, filho de D. Afonso I e de D. Mafalda.  Quarto filho do monarca Afonso Henriques, foi baptizado com o nome de Martinho, por haver nascido no dia do santo com o mesmo nome, e não estaria preparado para reinar; no entanto, a morte do seu irmão mais velho, D. Henrique, quando contava apenas três anos de idade, levou à alteração da sua onomástica para um nome mais hispânico, ficando desde então Sancho Afonso.
Em 1170, Sancho foi armado cavaleiro pelo seu pai logo após o acidente de D. Afonso Henriques em Badajoz e tornou-se seu braço direito, quer do ponto de vista militar, quer do ponto de vista administrativo. Foi iniciado na vida militar aos 12 anos, tendo chefiado uma expedição a Cidade Rodrigo contra Fernando II que se saldou por um fracasso. Participou desde então no exercício do poder político, talvez devido à incapacidade física do rei. O povoamento das terras abandonadas foi uma das suas principais preocupações. Para alcançar este objetivo desenvolveu as instituições municipais e concedeu diversos forais, principalmente na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), etc. Entre os anos de 1192 e 1195 receberam também forais Penacova, Marmelar, Pontével, Povos e S. Vicente da Beira. Os concelhos fronteiriços receberam privilégios particulares, tais como isenção de trabalhar na construção de castelos e muros, isenção do pagamento dos impostos de portagem e de colheita. A criação dos concelhos, para além do contributo que deu para o melhoramento económico e social, trouxe também vantagens de ordem militar e financeira, pois promoveu o aumento do número de combatentes que não recebiam soldo. Fixaram-se também em Portugal neste período numerosos colonos estrangeiros. As ordens religiosas, nomeadamente as militares, receberam de D. Sancho inúmeras concessões de terras e castelos. Nestes primeiros tempos de Portugal enquanto país independente, muitos eram os inimigos da coroa, a começar pelo reino de Castela e Leão que havia controlado Portugal até então. Para além do mais, a Igreja Católica demorava em consagrar a independência de Portugal com a sua bênção. Para compensar estas falhas, Portugal procurou aliados dentro da Península Ibérica, em particular o reino de Aragão, um inimigo tradicional de Castela, que se tornou no primeiro país a reconhecer Portugal. O acordo foi firmado 1174 pelo casamento de Sancho, então príncipe herdeiro, com a infanta Dulce Berenguer, irmã mais nova do rei Afonso II de Aragão.No ano de 1178, D. Sancho faz uma importante expedição contra mouros, confrontando-os cerca de Sevilha e do rio Guadalquivir, e ganha-lhes a batalha. Com essa acção, expulsa assim a possibilidade deles entrarem em território português. Com a morte de Afonso Henriques em 1185, Sancho I torna-se no segundo rei de Portugal. Tendo sido coroado na Sé de Coimbra, manteve essa cidade como o centro do seu reino. D. Sancho deu por finda as guerras fronteiriças pela posse da Galiza e dedicou-se a guerrear os Mouros localizados a Sul. Aproveitou a passagem pelo porto de Lisboa dos cruzados da terceira cruzada, na primavera de 1189, para conquistar Silves, um importante centro administrativo e económico do Sul, com população estimada em 20.000 pessoas. Sancho ordenou a fortificação da cidade e construção do castelo que ainda hoje pode ser admirado. A posse de Silves foi efémera já que em 1190 Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur cercou a cidade de Silves com um exército e com outro atacou Torres Novas, que apenas conseguiu resistir durante dez dias, devido ao rei de Leão e Castela ameaçar de novo o Norte.



Conquista de Silves e Alvor (1189)

"(...) preparámo-nos para a conquista de Silves a convite de El-Rei de Portugal, o qual também se preparava com gente e provimentos. Entrámos no porto de Silves encontrando a terra (...) sem habitantes por terem fugido todos para a cidade. Começaram então os flamengos a cavar uma mina sob o muro da cidadela, que comunicava com uma das torres da Almedina a fim de lá chegarem através da mina.
Finalmente, os mouros começaram a gritar (...) pela gente de El-Rei para (...) entregar a cidade dizendo que estavam mortos de sede. Combinámos que os infiéis saíssem somente com o que tivessem vestido, ficando El-Rei com a cidade e nós com o despojo (...)"

Em 1191, Silves caiu novamente na posse dos muçulmanos. Estava vingada a tomada dessa cidade, pelos portugueses, em 1189; a vingança foi de tal modo violenta que chegou até às muralhas de Tomar... tendo Portugal recuado as suas fronteiras até aos antigos limites do Tejo.

Neste sentido, o monarca português enfraquecido militarmente e totalmente frustrado pelo auxilio dos Cruzados, que apenas tinham como objectivo o saque, passou a dedicar-se à povoação e administração dos seus territórios, numa importante obra de organização e consolidação nacional.




Ficha genealógica

D. Sancho I, nasceu em Coimbra, 1154, e morreu em Coimbra a 26 de Março de 1212. Casou em 1174 com D. Dulce, que  nasceu em 1152 e morreu em Coimbra a 1 de Setembro de 1198, filha do conde de Barcelona, Raimundo Berenguer IV, rei de Aragão, e de D. Petronilha. Tiveram os seguintes filhos:

1. D. Teresa, nasceu em Coimbra por volta de 1175; rainha de Leão, em 1191, pelo casamento com D. Afonso IX, de quem se separou em 1196; entrou em religião por volta de 1228; morreu em Lorvão, com o título de infanta-rainha, a 18 de Junho de 1250; beatificada pela bula Sollicitudo Pastoralis Offici de 13 de Dezembro de 1705);
2. D. Sancha, nasceu em ano incerto, anterior a 1182; morreu no Mosteiro de Celas, a 13 de Março de 1229, sendo o corpo levado para Lorvão. Foi beatificada em 1705;
3. D. Constança, nasceu ao redor 1182; faleceu solteira a 3 de Agosto de 1202;
4. D. Afonso II, que herdou a coroa;
5. D. Pedro, nasceu em Coimbra a 23 de Fevereiro de 1187; residiu em Leão; foi conde de Urgel e rei das Baleares, tendo morrido em 2 de Junho de 1258);
6. D. Fernando, nasceu em 24 de Março de 1188; foi conde de Flandres pelo seu casamento com D. Joana, filha do conde Balduíno; esteve na batalha de Bouvines; morreu em Noyen a 4 de Março de 1233;
7. D. Henrique, nasceu em 1189 e morreu a 8 de Dezembro de ano incerto, sendo ainda jovem;
8. D. Raimundo, nasceu em ano incerto, tendo falecido depois de 1189;
9. D. Mafalda, nasceu em ano incerto, por volta de 1190; foi rainha de Castela em 1214, sem consumar o matrimónio com D. Henrique, filho do rei D. Afonso VIII, que faleceu de acidente em 1217; freira em Arouca, morreu em Rio Tinto (Amarante) a 1 de Maio de 1256; beatificada por breve papal de 27 de Junho de 1793;
10. D. Branca, nasceu por volta de 1192, tendo morrido solteira em 17 de Novembro de 1240, estando sepultada em Santa Cruz de Coimbra;
11. D. Berengária, nasceu c. 1195; rainha da Dinamarca, em 1214, pelo seu casamento com Valdemar II (1202-1241), morreu em 1221.
O monarca teve os seguintes bastardos de D. Maria Aires, de Fornelos: 
12. D. Martim Sanches, nasceu em data incerta; passou a Leão; morreu em  1229;
13. D. Urraca Sanches, casou com D. Lourenço Soares, tenente de Viseu e Lamego, neto de Egas Moniz; morreu depois de 1256.
De D. Maria Pais Ribeira, a célebre Ribeirinha, filha de D. Paio Moniz, teve D. Sancho I os seguintes filhos:
14. D. Rodrigo Sanches, nasceu em data incerta, e morreu em 1245, no combate de Gaia; sepultado no Mosteiro de Grijó;
15. D. Gil Sanches, nasceu em data incerta; faleceu em 14 de Setembro de 1236;
16. D. Nuno Sanches, que morreu de tenra idade;
17. D. Maior Sanches, que morreu de tenra idade;
18. D. Constança Sanches, nasceu em Coimbra no ano de 1204; professou no Convento das Donas; morreu em 8 de Agosto de 1129, estando sepultada em Santa Cruz;
19. D. Teresa Sanches, nasceu em data incerta; segunda mulher de D. Afonso Telo de Meneses, senhor de Albuquerque; morreu em 1230.

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